
então!
Irei sumir sem oferecer qualquer
vírgula ou ponte de explicação
cítrica em estado alquímico
tino de-composição
com abundância de ritmo e ausência
de significação
Os substantivos abstratos deixarei
amontoados a cabo dos ralos
da exclamação
E, os pronomes possessivos,
sendo bons comigo,
me deletarão!...
Casa muda
Aos amigos
Poemas são afetos
mesmo quando brumas, frestas,
areias, águas turvas...
São acordes da infância permanente
agem, em silêncio, enquanto
casa muda...
Agradeço a todos os AMIGOS da Blogosfera que puderam comparecer ao HF diante do espelho, em razão do meu aniversário, e, gentilmente, ofereceram-me “poesia” como presente:
Moacy Cirne
Mirse Souza
Wellington Guimarães
Líria Porto
........................Fred Mattos
........................Taninha Nascimento
........................Flávia Muniz
........................Nina Rizzi
..............................................Fernando Cisco Zappa
..............................................O Profeta
..............................................Lou Vilela
..............................................Ana Roccana
...................................................................Vicente Ferreira da Silva
...................................................................Luiz de Almeida
...................................................................Maria Clara
...................................................................Adrianna Coelho
........................................................................................Jayme Bueno
........................................................................................Romério Rômulo
........................................................................................O Empírico
........................................................................................Adriana Ann Dixson
Igualmente, agradeço à Béa do Compulsão Diária e à Úrsula Avner pelo afeto expresso em mensagem. E, oferto um carinho especial à amiga Mirse Souza que colaborou, abundantemente, para os preparativos desta festa.
Seguem, conforme ordem de envio, os textos encaminhados pelos amigos poetas, a quem guardo - tamanho - sincero carinho, admiração e estima.
CINEMA PAX
(1983)
entre pedras sonolentas
o pax existiu
não existe mais
tarzans de ontem
que não voltam nuncais
Pensei que pudesse
Encontrar alguém
que me coubesse
em laços de amizade.
Coube-me mais
Da mulher inteira
veio-me a amizade
VERDADEIRA!
Mulher-borboleta,
Menos mulher, mais borboleta,
Quando escreve. Mais mulher,
Insinuante e sinuosa,
Quando da borboleta ao ombro.
Matriarca jovem,
Um rosto nunca igual,
Um poema de silêncios,
De pausas, de...
Como seta transparente,
Como luz insinuada,
Pétalas que não fossem,
Estradas que não dessem.
Severa, segura,
Protocolar,
Acadêmica,
Carnaval, carnatal.
hoje tem festa
não sei o que visto
põe roupa de estrelas
de mar com peixinhos
ô mãe não chateies
não brinques comigo
ah filha esta vida
é parque é recreio
te acho bonita
de toda maneira
eu pedi ao vento que te levasse uma canção
mas o vento estava zangado e disse que não
pedi ao sol, então, que te levasse o meu recado
o sol pediu desculpas, disse que estava ocupado
à lua, de joelhos, pedi que te levasse um beijo
enciumada, a lua não atendeu ao meu desejo
implorei ao oceano que te levasse meus parabéns
ele disse que não podia, disse que não estava bem
por falta de outro correio, vai tudo neste poema
leva-o o perfume das flores rubras da açucena.
NASCIMENTO
Sou feita do que ainda resta ao tempo.
Ossos falam por mim:
A crueza da existência
é o que sustenta de pé
esta estrutura humana.
Tudo mais é busca de conforto.
E canto porque somente assim tem jeito.
É como alargo o coração do mundo
e expando a voz a falar no deserto.
quero um sapeca negrinho a me pinicar
e mais as pedras em minhas costas.
café ralo e doce
- amnésia alcoólica,
flashes de sexo e drogas
(apenas fantasia)
sentir sono durante uma reunião
e tremores ao dizer da práxis
(Carne crua e dura nem se tiver)
quero cerveja quente,
a beleza de sentir a diferença de meus irmãos de luta.
quero dança,
côco e berros.
sentir meus dedos inchados,
minhas roupas molhadas,
dor de ouvido e garganta.
quero a irmandade com o movimento das gentes livres.
para que você declamasse as sementes e as pedras que por dentro é ouro
queria poder retirar todas as perdas do seu caminho
mas quem sou eu para saber das perdas e do signo de touro
quando muito sei das pedras que em silêncio recolhi sozinho
Ó chamateia que fala da saudade
Ó canção que pões um brilho nos olhos
Ó mulher que tens a forma da viola
Ó que espalhas paixões aos molhos
E o cantar da meia-noite
A todos encanta e seduz
Cantar até que morra a voz
Cantar até que haja luz
CALEIDOSCÓPICA
Do giz à pena
enseja
traceja
transluz.
Vira borboleta
pira pirueta
seduz.
Caleidoscópica imagem
de um reino encantado
cujos soldados
, por entre cactos ,
entoam um blues.
A CHUVA
ALEGRIA
(inédito)
TOSCANEJANDO
Manias
Manhas e
Artimanhas
Do Poeta
Que cria
Escreve
Reescreve
Recria
E ri
Na orgia
Das Palavras
Ele induz
Da pena
E do papel
A gestação
Que pari
Versos
E o Poeta
Sorrateiramente
Fecha os olhos
E sorri
MOTIVO
Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Cecília Meireles.
Poema enviado por Maria Clara.
TATUAGEM
para Hercília Fernandes
sou quando voo
quando asa
quando flor
quando tudo abriu
em alma e corpo
[borboleta]
minha grafia
e meu pólen
poesia
GENETLÍACO À HERCÍLIA FERNANDES
(no seu aniversário, em 25 de abril de 2009)
De viver na pureza e na bondade,
É sinal de que tu sempre persegues
Esse amor que nos toca os corações.
posso ser vento e água numa noite.
poeta é fogo de esgarçar vitral.
.Quem,
Vazio é o homem que se escreve por ponto final.
E é quando releio.
,que na vírgula me enxergo afinal,
“Quanto a mim sei que estou na flor da minha idade”.
Mario Quintana
Texto enviado por Adriana Ann Dixson
AMIGOS,
Eu considero os poemas expressões de afeto, mesmo tratando temas densos, profundos e escuros, já que a poesia contém uma felicidade, como nos diz Bachelard, que lhe é própria. E, VOCÊS, com suas manifestações poéticas, me trazem sempre muita alegria.
Um forte abraço em Todos e Todas!
Hercília Fernandes.
O mundo mudou e eu ainda não me dei conta. Ainda me pego contemplando as estrelas, desafiando a lua e invocando São Jorge para me proteger – com sua espada - do dragão. Muito embora, também aspire corromper o herói em vilão.
O mundo mudou e eu ainda fico de bobeira, vagando noite adentro, madrugada inteira, só para colorir e admirar borboletas. Ainda busco significados nas lendas, ainda me reservo o direito de cultuar uma Helena...
Para Adriana Godoy
Chovia muito.
O céu se apresentava cinza,
opaco, tal qual fumaça de cigarro
em corpo sedento de bruma,
de nau frágil...
minha alma não alinha...
aguça.
ao pé do sótão ou porão:
― casa muda...
..........................................................................Solidez
minha alma não sabe o que é norma
minha alma não segue padrão
minha alma só sabe o que sente,
ardente, o coração.
mesmo assim eu fiz uma canção
para embalar minh'alma sozinha
ela ficou tão triste...
eu tive que retirá-la da caixinha.
a caixa parecia colorida
cheia de flores e laços e fitas
mas dentro parecia vazia...
de um certo ramo de rema de rima.
minha alma não sabe o que é lei
minha alma não conhece o Português
minha alma só vive as voltas
da vã censura e fria solidez!...
24-06-07
Não foi brincadeira...
mero devaneio ou algum amplexo
surreal de almas sutilmente
..........................................arteiras.
Foi algo
per fei ta mente normal
[e palpável] dentro do universo
.........................fan tas ma gó ri co
das emoções...
Se ventos não me veem...
permita-me o divagar
o desfolhar de tão longínquas
asas em lume de promessas sutis
e vagas de corpos imperfeitos
afeitos por respostas...
Outros ventos...
Canção de Hercília Fernandes & Marcus Vinícius
Produção e arranjos instrumentais: Marcus Vinícius
Vozes: Marcus Vinícius & Hercília Fernandes
Duas borboletas voavam
paralelas ao meridiano.
Enquanto eu as contemplava...
uma tomava a rosa dos ventos;
a outra - as dores póstumas.
.............................Tudo se fez tão rápido...
........................................como um país de sonhos.
A solidão me faz fabricar segredos, sussurros ao pé do ouvido, e, no interdito alimento o meu desejo. A solidão me faz chover e molhar a seda na mata escondida, faz-me buscar-te no espelho que é essa máquina fantástica e maldita.
Faço da minha palavra a minha arma: a bomba-relógio, o vinho, o ópio; não por pretensão filosófica, ideológica, religiosa..., mas, por uma contemplação poética, diria que provérbica, da minha - da minha tão somente minha -, existência.
Faço da minha dor beleza, até porque, mesmo na tragédia, há uma dose de beleza. Então contemplo a minha abstração, transfiguro o real e aprecio a flor estampada na minha solidão. Às vezes, disperso-me e sinto-me tão ausente e tão plena, que nem eu mesma sei onde estou (e para onde vou), “sei que canto e a canção é tudo, tem sangue eterno e a asa ritmada. Um dia sei que estarei mudo: mais nada[1]”.
E o meu canto é doce, tão doce que voam ao meu derredor borboletas de várias cores, formas e espécies. E elas tentam, a todo custo, desnudar a minha face coberta de neve. Fico pensando se um dia elas retirarem os véus que me encobrem o rosto, o que serei aos teus olhos depois do exposto? O que se passará quando meus pés deixarem de tocar as nuvens e puserem ao chão? Certamente me acharás e me verás em minha solidão.
Ah..., mas quando esse dia chegar, não penses que saberás tudo de mim! Pois, não tenho o hábito de me deixar abrir. Vivo numa caixinha mágica; dentro, tudo posso, tudo me é permitido sonhar. Em meus sonhos, posso ir ao teu encontro e narrar-te uma noite e meia de contos e mais contos. Contos das mil e uma noites, histórias de fadas, heróis, vilões... temperadas por dores, amores e contenções.
Ah..., não queiras me conhecer, não me desejes à previsibilidade. Para que a notoriedade se a noite vem e cobre o instante de verdade?
Queiras tão somente me sentir e beber fugazmente. Sem deixar marcas na taça, sem repetir as minhas, várias e tardias, falas. Não queiras ser a ninfa que anseia desesperada por uma fala a Narciso. Não queiras me tomar e me encher os ouvidos, porque não preciso de tua voz, não preciso de teu eco, não preciso de teu remédio. Queiras tão somente a minha momentânea loucura; nela, poderei ser tua. Queiras a minha inverdade: a fantasia, o caos, a incompatibilidade.
Quando assim me quiseres, encontrar-me-ás nas nuvens, inteiramente coberta por véus multicolores. Então, nesse dia, poderás me tirar a seda azul que me envolve a maçã e a cinza fumaça que me encobre a manhã. Mas, nem mesmo assim me acharás. Para que me desnudar se a verdade está nas borboletas que insistem em te buscar[2]?
Notas:
[1] Cecília Meireles: Motivo, in: Viagem, 1939.
[2] Prosa-poética pertinente ao livro Agá-Efe: entre ruínas & quimeras (FERNANDES, Hercília, 2006, p. 21).
.......
............Eu te amei!...
............As pedras do paleolítico
............bem previam...
.....................Mas nossa primitividade
.....................virou poeira em frágil
.....................edificação e, das cinzas,
......................................................nenhuma Fênix
...........................................................................ressurgiu.
I
Nego para melhor
dizer o que as mais
velhas, sisudas e gordas
carolas já estão roxas
de saber...
¡te estraño!...
II
Não falo de amor
posto ser invenção...
Falo de estranhamento
perder o senso em vale
de contemplação.
Falo de coisas insanas
e sanas também.
Nudez em ondas movediças
eterna na brevidade
vai-e-vem...
III
Até que, enfim,
descansemos...
pois que os sinos batem,
em silêncio, os doces desarranjos
de nossa profana e tardia:
in fan ti li da de.
“O que preciso e quero é atordoar-me. [...] As sensações da espécie humana em peso, quero-as eu dentro de mim; seus bens, seus males mais atrozes, mais íntimos, se estranhem aqui onde à vontade a mente minha os abrace, os tateie; assim me torno eu próprio a humanidade; e se ela ao cabo perdida for, me perderei com ela ”.
Fausto: Goethe.
Ela enfrentaria algumas
zebrinhas...
um, dois, três quilinhos
a mais: - na verdade, quatro!
uns cinco sinais de beleza
im-per-fei-ta-mente locados
no rosto; alguns pés-de-galinha,
certa papada no pescoço
e uma vasta opulência
no dorso...
os hóspedes
indesejáveis, pouco a pouco,
abandonam-me os ares
e o corpo imperfeito debate,
debalde, os apelos
da carne...
Esses dias
(em que as dores me tomam órgãos, membros, músculos, ouvidos, dentes, faringe, e toda legião de glóbulos...)
levam-me ao recolhimento, aos sussurros e aos gemidos, à quebradeira nos ossos, a avolumar poeira nos olhos e à vermelhidão na polpa da língua...
Mas, isso não é amor. Nem, ao reverso,
rima. É gripe!...
"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."(Gaston Bachelard)