30/03/2008

Maria Clara



Maria Clara
clara
alva
rara Maria.

Ria
ia
subia
clara à luz do dia.


Minha cara,
Clara minha!


Doce flauta,
serena,
silencia.


Minha causa
fada minha!


Rara
tão alva
Clara,
tanto bem,
Maria!







Texto inspirado no poema "Clara" de Caetano Veloso (http://mariaclara-simplesmentepoesia.blogspot.com/2008/03/clara-caetano-velloso.html), postado no blog: "Maria Clara: simplesmente poesia".



27/03/2008

O caminho das formigas




Nunca se questionou tanto a condição do homem e de sua, “suposta”, subjetividade nessa tal e tão almejada pós-modernidade...

Nunca se questionou tanto por que o homem, mesmo criando a fria máquina, busca nela própria algum traço de emotividade...

Nunca se questionou tanto por que o Novo busca no Velho a sua força e legitimidade...

Nunca se questionou tanto o porquê da Arte Poética, das aparências e da fenomenalidade...

Nunca se questionou tanto o fogo no mofo da palavra: lascívias, verbos e lágrimas in conteúdo e nas falácias...

Nunca se questionou tanto o idílico e a civilidade: o legítimo, o incolor e a profanidade...

Nunca se questionou tanto a lei da relatividade e por que o homem já não é a face do Senhor, nem a da propriedade...

Nunca se questionou tanto se existe um “eu”, ou se o mundo não passa de uma manualidade...

Nunca se questionou tanto o sentido da vida e por quais caminhos caminharão as “formigas” nesse longo circuito da humanidade!...






Texto inspirado a partir da apreciação do poema "Surpresa" de autoria do escritor Marcelo Novaes. In: O lugar que importa. Disponível em: http://olugarqueimporta.blogspot.com/2008/03/surpresa.html. Ilustração de Marc Chagall.

26/03/2008

Retrato de Helena



Onde está Helena?
Cadê aquela voz suave, doce, serena?
Em que rosto se esconde Helena?
No mar, na tarde, na tenda?

Aonde se encontra Helena?
Será que foi com o moço passear?
Será que foi na praia se banhar?

Onde está Helena?
Onde está seu sorriso?
Na água, no peixe, no livro?

Aonde se procura Helena?
Na fumaça que encobre a manhã?
Na seda azul que envolve a maçã?

Onde está Helena?
Onde está aquela menina amena e pequena?

- Sei lá! Saiu com o moço a procurar
Uma rosa vermelha pra enfeitar
As tranças cintilantes do seu sonhar.

Onde está Helena?...




FERNANDES, Hercília: Retrato de Helena. In: ___. Retrato de Helena, Natal-RN: Natal Gráfica, 2005.


Estraga prazer:
Esse poema é texto-título do livro "Retrato de Helena", conto psicológico publicado com apoio cultural do SESC-RN e acompanhado por Cd, contendo 12 poemas musicados por Marcus Vinícius, compositor e músico instrumentista alagoano.



24/03/2008

Aviso!...



Me chame louca, metida, antipática...
Mas, tapada: não!

Me chame romântica, ingênua, caliente...
Mas, ignorante: não!

Me chame revolucionária, alienígena-alienada...
Mas, desavisada: não!

Me chame realista, holística, todas elas em ista...
Mas, des-peitada: não!...


Aceito todas as denominações:
cravos, desagravos, bordões...


Só não aceito que, você, com esse olhar:

ta-pa-do
ig-no-ran-te
de-sa-vi-sa-do
e...
des-pei-ta-do,

queira me retirar os travões!...


(E tenho dito!...).



12/03/2008

Sobre-viventes



Amor, eu sou bem pior do que você! Pensava ela.

Pois não lhe falo o que se passa, dentro da minha cabeça, quando me provoca um mal. Porque acalento todo um universo existente em meus travesseiros...

Não fique assim, amor, não se sinta culpado! Olhe nos meus olhos e verá o quanto não sou mais angelical. Aliás, nessa história toda, não há culpados, nem inocentes. Somos fiéis sobre-viventes!

Você apronta, eu finjo nada enxergar... Sufoca-me com suas mentiras; eu omito-lhe certas verdades... Você sonha conquistar o mundo, eu dominar a natureza. Você deseja os prazeres de um harém; eu inventar um castelo de sonhos...

Não, meu bem, não somos culpados, nem inocentes! Somos fiéis sobre-viventes.

Você teme não me encontrar, ao seu lado, nas noites em que não houver estrelas para você contar... Por isso vai ignorando as claras palavras sob negras letras, vai depurando o meu cálice cheio de sangue sob morta mesa...

Eu, à maneira feminina, vou escancarando o gemido sob travesseiros molhados; tentando racionalizar a minha forma ignorante de apurar os fatos. Por que a mulher, meu anjo, é um ser moldável. Dizem que as fêmeas têm uma maneira sonhadora de ver. A razão feminina encontra-se no útero, no calor e na umidade de suas entranhas...

Somos fiéis sobre-viventes, amor! Fiéis sobre-viventes!...

Lembra, querido, daquela vez que deixou-me entristecida por estar encantado com àquela estrela de-cadente?... Eu, amor, ficando tão descontente, fui-lhe bem pior; acredite-me, bem pior!...

Porque a mulher, tendo essa forma imediata de pensar, oculta um universo de sonhos em seu leito. E eu, meu bem, sou mulher; tenho o meu pensar nas coisas concretas, custa-me entender as verdades provenientes da abstração...

Não se sinta algoz, amor. Você não é melhor, nem pior do que eu. E não será o último herói nessa cena empobrecida da vida real... Nem o encantador vilão com as suas artimanhas charmosas, nem o salvador pacífico em sua verdade não-profana.

Porque somos fiéis sobre-viventes. E, nesse conto de fadas, não há culpados, nem inocentes.
Somente sobreviventes!...


08/03/2008

Sutileza



Hoje não quero ouvir palavras feitas
Nem estampar a face morna sobre morta mesa
Nem destilar veneno sob artificial beleza
Nem fustigar a dor, mesmo que, rarefeita.

Hoje só quero ler fatos isolados:
cavalos mancos, vândalos e asnos
Ignorância nos modos, civis, não-domesticados!

Hoje só quero alienígena-alienista-alienado
Gente ignóbil nas letras e sutileza nos atos!

Hoje só leio fatos consumados!...


Vento



Vento leva um recado pra mim
Diz pro meu amor
O quanto sofro sozinha aqui.

Diz que estou chorando
Que venha cessar o meu pranto
Diz como é triste o meu canto
Porque perdi o meu encanto.

Leva pra ele o sabor das frutas
Que colhi no quintal
E o perfume das rosas
Sem beleza no rosal.

Na volta traga uma resposta
Me diga se ele volta...
Feliz batendo em minha porta.

Feliz batendo em minha porta
Feliz batendo em minha porta!...


(by Hercília Fernandes/Marcus Vinícius)




"Vento" é uma canção. A letra é de autoria de Hercília Fernandes e a melodia fora composta por Marcus Vinícius, músico e compositor alagoano, esposo da poetisa. Vento recentemente fora gravada pela banda "Perfume de Gardênia". Para apreciar o vídeo da canção na bela interpretação da banda natalense ver o YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=IR8ZRUSeBUE


04/03/2008

Meia Dúzia



Preciso me refazer!
Limpar as gavetas
onde ainda escondo antigos retratos.


Preciso varrer a casa
Abrir as cortinas
Retirar as velharias dos meus cactos.


Preciso mudar a rotina
Me sentir menos cretina
E deixar correr a água pelo assoalho.


Preciso mudar os hábitos:

Naftalina nos armários
Vaselina nos quartos...

E novos pares de sapato.


Eu só preciso...
quebrar uma meia dúzia de pratos!




Arte de Chagall.




"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)