16/07/2014

O ESPELHO


– reflexo de si mesmo,
que inscreve o outro em mim
dia a dia
noite a noite;
madrugadas a esmo,
enfim –

reluz
embaça

esvoaça trovas e trovoadas
às palavras que, íntimas, se reconhecem
ditas
ouvidas
dilaceradas...

porque urgência é reconhecer-me

face a face
verbo a verbo
do verso ao ato, – ao sexo

em sua língua
tato
.......................reflexo


mas a contingência arrefece também a miragem...
o objeto, a sensação; a palavra adejante ao espírito,

– à carne

que se inscreve tardia e delirante no cio

possa eu luzir no espelho
chama vela
pavio?

inverno
que é simultaneamente estio?

primavera

de
.......rio
..........som
..............brio?

beleza
que se anela à linguagem do corpo
febril?


possa eu a porção (im)pronunciável do vazio?...




h.f.
14 mai./2014




"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)