24/02/2010

Preferências

Textos revisitados para postagem em o Poema Dia.




I - saudável


A palavra era fugidia

demasiadamente vaga,

embora tardia.


Não era o que a minha

alma sonhadora sol-via

nem o corpo imperfeito,

debalde, pretendia.


Era uma palavra sadia...

sem sinais de combate,

cansaço, nem

esquizofrenia...



II - equívoco


prefiro o silêncio

a palavras ambíguas

negros apontamentos

a reticências de punhos

de cromos de tombos

de línguas...




22/02/2010

metros de chuva em o Maria Clara


arte: Boris, 1997.


Não posso dizer se a chuva passou

nem se lágrimas deixaram de brotar

em minha face então fria.


Nem se tempestades cessaram

seus cantos brios

nas noites cinza de ventania...




Caros amigos,


convido-os à leitura integral de “metros de chuva”, escrita composta em 2007 e hoje revisitada para publicação em o Maria Clara: simples mente poesia.

Aproveito o post para agradecer a todos e todas pelas visitas e demonstrações de afeto para com a minha poesia. Ando imensamente envolvida em um projeto que me tem ofertado grande prazer e aprendizado e creio que os amigos brevemente também o apreciarão.


Um forte abraço em todos e todas,

Hercília Fernandes.


06/02/2010

as delícias...


Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.

Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma

que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civili-

zação que elabora esse produto intermediário entre o macho e o

castrado que qualificam de feminino.

(Simone de Beauvoir: O segundo sexo, 1967)

Simone de Beauvoir


não desacredito no amor...


no alvor dos laços

nas ânsias que levam

homens mulheres às

delícias do claustro

- alegrias e elevações

da maternidade...


mas penso haver felicidade

sem que se precise morrer.



by hercília fernandes


04/02/2010

domiciliar

miúdos escritos a partir de diálogos com o poeta Fred Matos


quero poema vagabundo

da raiz do assunto ao ponto final...




foto: Pedro Rodrigues



entra em minha casa

adentra vãos, tira conclusões...

o que chamo primo (des)aprumo

......................à poiésis convém

se sonhar é antagônico

por que vem?




02/02/2010

rosa de alfenim




voltou anjo, querubim
adoçou-me com flocos de
neve e aluá de gergelim
deixou-me apática, inerte
feito rosa de alfenim.




Estragar prazer
(notas de explicação que ninguém pediu...)

Na culinária nordestina se pode saborear o aluá e/ou aruá, bebida de origem indígena a base de milho, e o alfenim, espécie de doce caseiro de origem européia feito com melado de rapadura. As doceiras costumam “puxar” a pasta de rapadura até “branqueá-la” (açucarar), a fim de modelar o formato dos doces, como “rosas de alfenim” .
*Imagem: Pigmaleão e Galatéia, Jean-Leon Gérôme.

01/02/2010

salmos


Ele habita seus sonhos

mesmo quando fluente ou lacunar...






ela está para ele

assim como ele para ela

não tarda serão uno:

sertãocerrado


e os beijos serão possíveis

os pecados puros como salmos

suas línguas fundirão

céu inferno




*Texto também disponível em o Literapura.

**Foto sem autoria localizada no Google.



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)