26/10/2008

A-mora



Cama, armário, porta, gaveta...


Poética da casa!


manual-
idade
em miudeza!...


Rosa, cabrocha, brotoeja...


Fim de papo!


cordial-
idade
rósea a-mora em ameixa!



23/10/2008

Dialética do Vazio / Cheio


Há dias em que se busca uma agulha, linha, algum fio d’ouro e não se acha sequer o reflexo pré-concebido de tais coisas.

Há dias em que se aproveita de uma palavra solta e se tenta rascunhar algo capaz de abrir portas. E não se pode abri-las.

O Nada é um estranho no ninho. Acomoda-se no chão, no teto, nos quadros, nos linhos...

Entra sorrateiramente, preenche e desapruma os vãos nos quartos. Insolente, manipula os cômodos no frio e no escuro espaço.

O Nada é o vilão charmoso. E é o temível herói.

O Lácio nas altas rodas noturnas. O fáustico causador das sutis promessas e vastas lamúrias.

O Nada é o silêncio in-operante. E as miúdas coisas que nele habitam!...


Arte: Van Gogh


19/10/2008

Quefazer



Minha vida é o caminhar,
quefazer infinito.

Caminhos de pedras, retas, labirintos...
Dura e pérfida!
Fumaça passa em desalinho.

Minha vida não é a melhor amiga
Nem a pior conselheira...

É a caça do eu perdido em curvas
E a presa tátil nas vigas.

Dirão os que virão:
“Foi mar de ondas claras
em vales profundos”.

[Ou...]

“Glória sem brasão
riacho de lágrimas
infortúnios”...

Eu, ao longe, apenas lhes direi:
- Enxergai as folhas no barro,
no pão.

As gotas de orvalho
no prumo,
vale sem promessa, oceano sem direção.


05/10/2008

Perdidos & Achados

Aos amigos leitores [e poetas] brasileiros e portugueses.


Busco me achar
Nas imagens deformadas.
Busco me perder
Nas tuas veredas perfeitas.


Busco apenas enxergar
A tua face morta na margem.
Posto, sei, é muito tarde
Para qualquer enquadro na trave.


Busco viajar
Entre esferas e esquadros.
Busco suprimir
O que há em nós de extrato.


Busco qualquer discurso
Seja: quimérico, ilusório, abstrato.


Busco um pôr-do-sol
Que aja em nós
Como punhada de anzol.


Busco trafegar
Entre colunas além-mar.
Busco contemplar
A luz que faz questão de se esconder.


Busco vivificar
Um poema fácil de se ler.

Busco reconhecer
Um idioma para me atar.


Busco uma racionalidade
Fácil de sistematizar.
Busco uma animalidade
Difícil de se desenhar.



Busco um país
Que me pareça sólido, ora triz
Busco um neo-idílico feliz
Com a quimera, as trevas
E a luz néon de um antigo Paris.


Busco simplesmente...
O essencial em Portugal
Compreender o porquê
De nascermos simplesmente
Tão animal e tão desigual
E entender por quê:

- O Bem, às vezes, reveste-se de Mal.



Arte: Marc Chagall


FERNANDES, Hercília. Perdidos e achados. In: ______. Agá-Efe: entre ruínas & quimeras. Natal-RN: Natal Gráfica, 2006, p. 70.


01/10/2008

Madeixas II

(Outro pente...)


Alguém sabe ‘aonde’ foram parar os meus cabelos?...
[Ando careca por tanta inquietação!]


Eles se desprenderam de minha cabeça
Indo buscar outro pente
para pentear

viva-morta
nova-velha

emoção!



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)