27/08/2007

Par de tamancos


Às vezes sinto um cansaço...
De que me valem tamanhos passos?

Eu só queria uma noite bem dormida:
Flores na varanda, rede estendida
Escalda pés, cara fresca, tarde limpa!

Eu só queria uma casa no campo:
(sem livros, discos ou estantes...)
Um cobertor de estrelas
Chinelos azuis verdejantes
E um bom par de tamancos!

Eu só queria...
um bom e velho par de tamancos!



26/08/2007

vai & vem


Por que você não me diz alguma coisa?
Por que só me fala em silêncio?
Por que você não me toma em seus braços?
E deixa para depois o arrependimento?


Por que você não me dá um sim?
Se nunca me deu um não?!
Por que você deixa sempre em aberto
as grades do silêncio e da prisão?


Por que você não diz que me ama?
Se seus olhos mal conseguem me ver?
Por que você não sucumbi à chama?
Se posso sentir:
sua dor, seu desprazer?!


Por que você não some de uma vez?
E me deixa entregue às velhas sombras?
Por que você vive sempre tão cortês?
E eu perdida no vai e vem das ondas?


Por que você não sai de mim?...


16/08/2007

Apetrechos



Reuni os meus apetrechos,
espalhei flores sobre a cama.

Penteei meus longos cabelos
joguei os pés, doídos, à santa.

Caí na calada da noite
cantei, dancei música cigana.

Colei retratos na janela
bebi álcool com laranja.

Depois subi pelas paredes:
(quase lhe pedindo...)
socorro, pano, lâmpada!

Mas você nada me disse
nem nada me fingiu dizer.
Nem mesmo me arriscou um palpite
sobre o meu jeito lânguida de ser.

É por isso que eu fico assim meio triste
(nesse disse me disse)
Esperando...
minhas coisas:

[cama (de flores)
[santa (de redenção)
[cigana (de amores)
[laranja (de odores)
[lâmpada (de contemplação)
[lânguida (de solidão)

- Você [me] recolher!


01/08/2007

Desejos infantis



A cada dia me torno mais estranha
A cada dia já não reconheço

minha face adormecida na amplidão.
A cada dia sinto-me menos fluída
A cada dia me nego, um pouco mais,

à contemplação.


A cada dia me desinteresso por coisas sensatas
E por coisas não-sérias também.
A cada dia apresento menos tolerância,
para não dizer: desdém!


A cada dia choro em meu silêncio
E clamo uma nova cor e idéia
Contrariamente, tarda-me chegar a primavera.
E, com ela, a luz e a chama de uma vela.


Assim, meus dias vão passando:
sem serenidade, dormência ou engano
Assim, meus dias vão perdurando
(Enquanto choro em meu silêncio)
Os meus desejos infantis e secretos planos.



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)