
O tempo passa...
veio
como
nada
resposta
doura
açúcar
boto
ambrosia
Arte: Disponível no Google Imagens.
Entre uma nota e outra do violão...
o rito
os dedos
a cauda
_______à faisão.
ambíguas
mais-que-perfeitos
máculas.
prolixas
seios
vesgos d'alma.
Não é Amélia
Nem Maria Madalena...
Não serve como promessa
Nem [pára] melena.
Não é santa
nem profana
demais
Ela está no meio da linha.
Não é moldura, canário,
nem passarinha...
Eu só preciso de um bom prefácio
alguém que me acrescente seu molho,
seu algo.
Excelência e nau frágil.
Dicionário a bordo:
cobra, zebra [pato] galinha...
uma dose de álcool!
Pintura Indiana e Khmeriana
(Figura de animais. Museu Topkápi, Istambul).
Adianta tamanha procissão de ternura?
O tempo não soprará os ventos de outrora
nem sob ação da chuva e as mil voltas do coração.
A filha do sopro cessa seu pranto sereno
[como quem guarda, em livro envelhecido,
uma página da história]
tal desengano, tal estranheza
banha - em brando rio - a dor vinda, jaz, obsoleta.
Arte: Gustav Klimt (Poetry)
Se me vês passar,
trava-me a pau e a ferro...
E se me permites aventurar:
há muito tu perdeste,
à machado,
o cedro augusto do teu alcunho!...
Hoje eu quero quebrar os pratos
Pintar um verme na sua cor e bandeira
Triturar dentro de mim os seus rastros
Antes que eu me quebre por inteira.
Hoje eu quero quebradeira
E quero uma boa dose de veneno
A harmonia na pausa e no contra-tempo
A tristeza e alegria de uma dança grega.
Hoje eu quero me vestir de rato
Para roer sua intolerância e destreza
Para carcomer sua falsidade e tormento.
Para provocar o seu entorpecimento
Para vomitar nos calços de sua firmeza
Para tirar os cadarços de seus sapatos.
Arte: Van Gogh
** Do Livro Agá-Efe: entre ruínas & quimeras. FERNANDES, Hercília: 2006.
Caros amigos [Poetas e Leitores].
O blog HF diante do espelho recebeu a indicação do poeta Assis de Mello[1], autor do Coisas do Chico, ao Prêmio Dardos. Isso significa que houve um reconhecimento do nosso árduo ofício de artesão das palavras & imagens, conforme indica o prêmio:
"Com o Prêmio Dardos reconhecemos os valores que cada blogueiro mostra a cada dia no empenho em transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, em demonstrar, em suma, sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras (PRÊMIO DARDOS)."
Há algum tempo, o prêmio Dardos vem circulando na Blogosfera, atribuindo mérito aos trabalhos dos poetas na Internet. Dentre os artistas homenageados com o selo, podem-se destacar os poetas portugueses Vieira Calado, Vicente Ferreira da Silva e a poetisa Graça Pires. Ambos, autores de sensível e notória arte poética e publicações em livro. Na blogosfera brasileira destacam-se os poetas Fabrício Fortes, Bianca Feijó, Carol Porner; e, recentemente, Assis de Mello.
Pelas normas de indicação, cada autor indicado deve realizar uma lista de 15 artistas virtuais para recebimento do título. Entretanto, a seleção dos nomes é um fenômeno subjetivo, já que o prêmio não estabelece, claramente, os critérios de avaliação; sendo, portanto, uma seleção informal com base no gosto, na visão de mundo, experiências de leitura e esteticidade de cada escritor blogueiro.
Para mim, a tarefa da seleção foi uma experiência tanto quanto difícil, pois há muitos poetas e escritores dignos de apreciação na Blogosfera. Porém, realizei a minha indicação com critérios particulares, selecionando os artistas que, regularmente, acompanho os seus feitos literários, compartilhando do crescimento imagístico, emotivo-conceitual e lingüístico de suas criações; e que, apesar da fortuna estética, ainda não tiveram a oportunidade de recebimento do prêmio.
Termino a postagem agradecendo, afetiva e formalmente, ao Assis de Mello e estendo o meu abraço a todos os autores indicados[2] e poetas citados nesta postagem com a primeira estrofe do poema Ordem dos adereços:
O artesão se esforça...
cola, versa, contorna
a cor, na véspera,
da rosa na corda
só mais uma,
outra
nova
velha
vez!
Saudações poéticas,
Hercília Fernandes.
Notas:
[1] Assis de Mello possui Mestrado em Zoologia e Doutorado em Biologia Genética. Atua como Prof. Universitário e Pesquisador na UNESP - Campus de Botucatu / SP.
[2] Os autores dos blogs indicados foram devidamente comunicados por e-mails e encontram-se distribuídos nas listas de links existentes em o HF diante do espelho.
Seria mais fácil sendo mentira...
Se não houvesse santos, heróis ou vilões
seria fácil, haveria equilíbrio.
Então se teria a roupa certa...
Não a mais bela:
a maquiagem correta!
Por que deve haver ética,
códigos de honra.
Uma legião de coisas
que balanceia e entristece.
Para que haja foros de verdade
Para que aja o decoro
E se extirpe a animalidade.
Seria mais fácil [se] vestindo a roupa certa!...
Arte: Mulher em Vermelho.
Há dias em que se aproveita de uma palavra solta e se tenta rascunhar algo capaz de abrir portas. E não se pode abri-las.
O Nada é um estranho no ninho. Acomoda-se no chão, no teto, nos quadros, nos linhos...
Entra sorrateiramente, preenche e desapruma os vãos nos quartos. Insolente, manipula os cômodos no frio e no escuro espaço.
O Nada é o vilão charmoso. E é o temível herói.
O Lácio nas altas rodas noturnas. O fáustico causador das sutis promessas e vastas lamúrias.
O Nada é o silêncio in-operante. E as miúdas coisas que nele habitam!...
Busco me achar
Nas imagens deformadas.
Busco me perder
Nas tuas veredas perfeitas.
Busco apenas enxergar
A tua face morta na margem.
Posto, sei, é muito tarde
Para qualquer enquadro na trave.
Busco um pôr-do-sol
Que aja em nós
Como punhada de anzol.
Busco trafegar
Entre colunas além-mar.
Busco contemplar
A luz que faz questão de se esconder.
Busco vivificar
Um poema fácil de se ler.
Busco reconhecer
Um idioma para me atar.
Busco uma racionalidade
Fácil de sistematizar.
Busco uma animalidade
Difícil de se desenhar.
Busco um país
Que me pareça sólido, ora triz
Busco um neo-idílico feliz
Com a quimera, as trevas
E a luz néon de um antigo Paris.
Busco simplesmente...
O essencial em Portugal
Compreender o porquê
De nascermos simplesmente
Tão animal e tão desigual
E entender por quê:
- O Bem, às vezes, reveste-se de Mal.
Arte: Marc Chagall
FERNANDES, Hercília. Perdidos e achados. In: ______. Agá-Efe: entre ruínas & quimeras. Natal-RN: Natal Gráfica, 2006, p. 70.
(Outro pente...)
Alguém sabe ‘aonde’ foram parar os meus cabelos?...
[Ando careca por tanta inquietação!]
Busco-te...
como quem prende âncora ao marO artesão se esforça...
cola, versa, contorna
a cor, na véspera,
da rosa na corda
só mais uma,
outra
nova
velha
vez!
Todo dia,
velho, árduo, artifício:
A colcha de ontem não embala o amanhã,
requer método de ofício!
A ordem dos adereços é sempre o porvir
[fatídico manejo!]
Desmontar o velho e deixar o novo sobrevir.
O artesão se esforça...
cola, versa, contorna
a cor, na véspera,
da rosa na corda
só mais uma,
outra
nova
velha
vez!
O que busco, parece-me, não está aqui...
Não está nas sedas, jóias, cortesias...
[pobres e utensílios domésticos!]
Não está nas rosas, róseas,
Ou nas pálidas borboletas de jardins.
Nem nas várias honrarias e poucos méritos...
_________________________________________________________
Está em certa cor e vibratilidade
n’alguma incerta promessa...
Possibilidade concreta
[não-pertencimento]
de coisa que não se vende, nem se acha!
Isso, parece-me, é [ser] muito
Isso, parece-me, improvável
[de graça!]
tanto quanto inoportuno.
Assim como na tela do cinema, onde seres autômatos caminham anônimos pelas ruas da cidade, eles se estranhavam e buscavam abrir caminhos caminhando...
Na distração do cenário: uma batida, um freio no tempo, um sobressalto. Eles se reconheceram.
- Oi, estranho! Disse-lhe ela.
Ele nada respondeu, apenas sorriu. E, no seu sorriso, o descontentamento tornou-se riso e o siso vestiu-se de beleza.
Olhos verdes-azuis. Todo o céu sorriu-lhe.Ele a amou a primeira vista. Isso é certo! Porém, não soube vislumbrar a sua verdadeira face. Não compreendeu a natureza de sua poética:
- Por tão bela, tão etérea tal qual a filha do sopro na primavera, qual o nome dela?... Ele se inquietava.
Meio dia. Uma, duas, três... perto demais!. Dezesseis horas... A canção embalava os amantes, oferecia asas à imaginação e vestia a história até então não-dita.
Eles não se pertenciam...
Havia um filme e um tema de amor:
Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?
I can't take my eyes off of you…
Sugestão de vídeo: The Blower’s Daughter (by Damien Rice). Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=UHPTHP4dihA
Um metro de lâmina
e uma granula de ópio.
Há uma palavra não-dita
e um silêncio gritante.
Uma ponte escondida
e um chinelo azul verdejante.
Há uma roda viva
e um mar morto
Uma verdade esculpida
e um cavalo solto.
Há coisas para serem ditas
umas - outras – melhoradas...
Uma lágrima fingida
um riacho cheio d'alma:
sebo
nervo
alheio
em cascata.
http://www.joaowerner.com.br/images/morte/beira_do_rio.htm
"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."(Gaston Bachelard)