05/10/2008

Perdidos & Achados

Aos amigos leitores [e poetas] brasileiros e portugueses.


Busco me achar
Nas imagens deformadas.
Busco me perder
Nas tuas veredas perfeitas.


Busco apenas enxergar
A tua face morta na margem.
Posto, sei, é muito tarde
Para qualquer enquadro na trave.


Busco viajar
Entre esferas e esquadros.
Busco suprimir
O que há em nós de extrato.


Busco qualquer discurso
Seja: quimérico, ilusório, abstrato.


Busco um pôr-do-sol
Que aja em nós
Como punhada de anzol.


Busco trafegar
Entre colunas além-mar.
Busco contemplar
A luz que faz questão de se esconder.


Busco vivificar
Um poema fácil de se ler.

Busco reconhecer
Um idioma para me atar.


Busco uma racionalidade
Fácil de sistematizar.
Busco uma animalidade
Difícil de se desenhar.



Busco um país
Que me pareça sólido, ora triz
Busco um neo-idílico feliz
Com a quimera, as trevas
E a luz néon de um antigo Paris.


Busco simplesmente...
O essencial em Portugal
Compreender o porquê
De nascermos simplesmente
Tão animal e tão desigual
E entender por quê:

- O Bem, às vezes, reveste-se de Mal.



Arte: Marc Chagall


FERNANDES, Hercília. Perdidos e achados. In: ______. Agá-Efe: entre ruínas & quimeras. Natal-RN: Natal Gráfica, 2006, p. 70.


"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)