23/10/2008

Dialética do Vazio / Cheio


Há dias em que se busca uma agulha, linha, algum fio d’ouro e não se acha sequer o reflexo pré-concebido de tais coisas.

Há dias em que se aproveita de uma palavra solta e se tenta rascunhar algo capaz de abrir portas. E não se pode abri-las.

O Nada é um estranho no ninho. Acomoda-se no chão, no teto, nos quadros, nos linhos...

Entra sorrateiramente, preenche e desapruma os vãos nos quartos. Insolente, manipula os cômodos no frio e no escuro espaço.

O Nada é o vilão charmoso. E é o temível herói.

O Lácio nas altas rodas noturnas. O fáustico causador das sutis promessas e vastas lamúrias.

O Nada é o silêncio in-operante. E as miúdas coisas que nele habitam!...


Arte: Van Gogh


"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)