— Coitada dela! Falava-lhe a voz da in-consciência.
Ela sentia-se vazia: sem cor, sem parede, sem teto, sem chão.
Faltava-lhe o ar comprimido... élan vital. Faltavam-lhe o pôr-do-sol, a primavera e a voracidade matinal. Faltavam-lhe o néctar da tarde e o solo frugal. Todas essas coisas in-sensatas que adoçam o peito de saudade...
— Coitada dela! Coitada dela!... O canto tenebroso da insistência insistia-lhe aos ouvidos.
Faltava-lhe o sexto sentido: o bruma da paixão, o pêndulo do esquecimento. Vale de larvas e flocos de prata se desdobrando em flor de cimento.
— Coitada dela, coitada dela...
Exposição fria, cruel, nua. Paisagem viva-morta n’alguma in-existente aquarela...
— Coitada dela!...
Texto postado em 13/10/07.