Disseram que eu era rainha,
dona da procriação e alheia vida.
Que era tentação e profanidade
e, do jardim, merecia ser banida.
Disseram que eu era divinidade,
guardiã da pureza e sabedoria.
Portadora natural de ingenuidade
e, nela, deveria ser mantida.
Disseram que eu era frágil, cativa
Que em mim havia altivez, não desmedida!
Senhora de louvor e única possibilidade
placidez e promessa de felicidade.
Disseram que eu era notória ativista,
o verso avesso da prosperidade.
Tendo a candura como meio e propriedade
deveria ser-me investida.
Disseram que eu era vã e fingida
sendo má, ter-me-ia a face cuspida.
Depois de se velar por minha sobriedade,
ter-se-ia minha alma garantida.
Disseram que eu era um ser de sensibilidade
sendo passional, facilmente iludida.
Que eu era diamante em pedra de civilidade
Pois que se cumpra, então, a sina!...