
Cama, armário, porta, gaveta...
Poética da casa!
manual-
idade
em miudeza!...
Rosa, cabrocha, brotoeja...
Fim de papo!
cordial-
idade
rósea a-mora em ameixa!
Há dias em que se aproveita de uma palavra solta e se tenta rascunhar algo capaz de abrir portas. E não se pode abri-las.
O Nada é um estranho no ninho. Acomoda-se no chão, no teto, nos quadros, nos linhos...
Entra sorrateiramente, preenche e desapruma os vãos nos quartos. Insolente, manipula os cômodos no frio e no escuro espaço.
O Nada é o vilão charmoso. E é o temível herói.
O Lácio nas altas rodas noturnas. O fáustico causador das sutis promessas e vastas lamúrias.
O Nada é o silêncio in-operante. E as miúdas coisas que nele habitam!...
Busco me achar
Nas imagens deformadas.
Busco me perder
Nas tuas veredas perfeitas.
Busco apenas enxergar
A tua face morta na margem.
Posto, sei, é muito tarde
Para qualquer enquadro na trave.
Busco um pôr-do-sol
Que aja em nós
Como punhada de anzol.
Busco trafegar
Entre colunas além-mar.
Busco contemplar
A luz que faz questão de se esconder.
Busco vivificar
Um poema fácil de se ler.
Busco reconhecer
Um idioma para me atar.
Busco uma racionalidade
Fácil de sistematizar.
Busco uma animalidade
Difícil de se desenhar.
Busco um país
Que me pareça sólido, ora triz
Busco um neo-idílico feliz
Com a quimera, as trevas
E a luz néon de um antigo Paris.
Busco simplesmente...
O essencial em Portugal
Compreender o porquê
De nascermos simplesmente
Tão animal e tão desigual
E entender por quê:
- O Bem, às vezes, reveste-se de Mal.
Arte: Marc Chagall
FERNANDES, Hercília. Perdidos e achados. In: ______. Agá-Efe: entre ruínas & quimeras. Natal-RN: Natal Gráfica, 2006, p. 70.
(Outro pente...)
Alguém sabe ‘aonde’ foram parar os meus cabelos?...
[Ando careca por tanta inquietação!]
"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."(Gaston Bachelard)