27/11/2007

Aurora perdida



Dona Adelina Barbosa de Seixas, 53 anos, era uma professora um tanto quanto ortodoxa. Mesmo nos tempos onde já se sentiam os sopros do discurso construtivista e sócio-interacionista - e tantos outros “istas” -; a professora Delinha, como comumente era chamada pelos gracejadores daquela escolinha primária, mantivera-se firme aos seus preceitos normalistas.


É que em matéria de educação, a sala de aula nem sempre acompanha a evolução... e a professora por mais que se esforçasse – e ela o fazia mesmo! - acabava sempre deixando emergir atitudes contraditórias. Porém, ela enfatizava: - Faço tudo isso por amor! Até se aplicasse uma palmada - diga-se, psicologicamente, bem dada! - dizia a educadora, era um gesto de amor.


Às vezes justificava as atitudes intempestivas, argumentando que o mal da educação centrava-se na ausência de valores do educador para formar o bom cidadão. Então, lembrava-se nostalgicamente do ensino em épocas rompidas, vislumbrando paisagens embaçadas e descoloridas: crianças perfumadas e limpinhas, comportadas, bem encolhidinhas; distribuídas em filas estrategicamente pensadas e, no canto da sala, a professorinha tomando as lições, já então bem sabidas, dos exemplares meninos e meninas...


Ah..., suspirava a Dona Adelina, que saudade da aurora de minha vida então perdida!...


"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)