26/01/2007

Metros de chuva

arte: Boris, 1997.


Não posso dizer se a chuva passou

nem se lágrimas deixaram de brotar

em minha face então fria.


Nem se tempestades cessaram

seus cantos brios

nas noites cinza de ventania.


Não posso dizer se esqueci

tampouco se lembrarei.

Não posso dizer se sofri

porquanto se o amei.


Quisera ter a bússola do tempo

ou um paiol do teu alimento.

Quisera ter o discernimento

pra sustentar o meu riso

e o teu lamento.


Mas se chegaste ao meu domínio

trataria de recusar:

De que me vale tal envaidecimento

se meu barco segue sempre a vagar?...


Mas se fosse pro teu encantamento

eu rezaria até formar:

Uma tempestade de firmamento

com metros de chuva

à luz do meu riso e teu luar.



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)