Às vezes penso que sou ar,
outras, água.
Horas bem devagar
presa a terra, e sem asas,
me ponho a voar.
Às vezes não quero voltar
E finjo ser o que não sou
Por que é triste ser navegador
sem barco certo e vento a favor.
Às vezes sou apenas nada
e, sem nada, sigo o meu caminho.
Às vezes sou uma triste toada
perdida na mata, solada, do sozinho.
Às vezes sou chuva
E me enfeito com adereços de flor.
Mas também sou seca
E me sirvo de vã beleza
nascida da dor.
Às vezes sou interrogação
ou previsível e água-mole e vulcão.
Segredo, unidade, segregação:
Pavio curto e leite derramado
no bolso escancarado de um velho blusão.
Às vezes, somente, às vezes...