10/11/2009

Poesia em "O cordeiro pressente o lobo"


Foto de O cordeiro pressente o lobo: acervo de João Werner

Há acontecimentos que revigoram nossos espíritos; trazem luzes, tons, novos entusiasmos, viços.

Assim se deu com o conhecimento de que o poema Cascata, postado em setembro de 2008, conjuntamente à obra Na beira do rio, integraria a exposição do artista plástico paranaense João Werner.

João Werner, graduado em Artes Plásticas pela Faculdade Santa Marcelina de São Paulo e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, contém rica trajetória artística. Em sua galeria acumula várias premiações e participações, individuais e coletivas, em exposições nacionais e internacionais.

Sua exposição atual, “O cordeiro pressente o lobo”, teve início neste último dia 06 e se estenderá até 06 de dezembro de 2009, na Vila Cultural Cemitério de Automóveis, em Londrina-PR.

Em O cordeiro pressente o lobo, João Werner apresenta treze de suas gravuras digitais, e, recorrendo a uma crítica do novo livro de José Saramago "Caim", relembra que, assim como na literatura, as artes visuais não devem conter “a intenção de ser uma casa de ópio ou de retratar um mundo de sonho” (LEMES, in: Folha de Londrina, 05 de nov. 2009).

Assim, o artista desenvolve temas ligados à morte e à automutilação dos indivíduos, ao suicídio, ao incesto, ao uso de drogas e outros tabus considerados desagregadores; onde, segundo pontua o jornalista Francismar Lemes, do jornal Folha de Londrina, atribui certa dose de humor aos assuntos considerados anomias sociais.

No universo virtual, o artista difunde a sua arte no site Pinturas e esculturas de João Werner, cujo espaço comporta - além de suas obras - dados biográficos, ensaios e fortuna crítica, notícias, entrevistas e um espaço direcionado ao registro da veiculação de suas obras na web, onde se encontram mais de sessenta poemas que foram devidamente ilustrados a partir de suas criações.

Para integrar O cordeiro pressente o lobo, João Werner selecionou três obras que serviram de ilustração a textos poéticos, dentre elas a obra Na beira do rio e, consequentemente, o poema Cascata.

Através de contato de e-mail, João Werner fez-me a solicitação para apresentar o poema em sua exposição, o que me deixou abundantemente feliz e envaidecida. Por isso, compartilho hoje mais uma das alegrias vivenciadas no HF diante do espelho.

Passemos ao detalhamento das obras in destaque:



Na beira do rio: João Werner


Há um travo na garganta

e um travão nos olhos.


Um metro de lâmina

e uma granula de ópio.


Há uma palavra não-dita

e um silêncio gritante.


Uma ponte escondida

e um chinelo azul verdejante.


Há uma roda viva

e um mar morto


Uma verdade esculpida

e um cavalo solto.


Há coisas para serem ditas

umas - outras – melhoradas...


Uma lágrima fingida

um riacho cheio d'alma:


sebo

nervo

alheio


em cascata.



by hercília fernandes


"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)