Para acompanhar leitura
Linda rosa: Maria Gadú
Rosa vinha de mau relacionamento, mas seu coração cultivava jardim de esperanças.
No espelho da mãe, costumava observar as formas de seu corpo e, enquanto absorvia o reflexo da imagem transfigurada, lhe inquietava o espírito a responsabilidade de prover, sozinha, os dois filhos. Porém, a moça era extremamente otimista, beirava a flor dos vinte; e acreditava, fervorosamente, em manhãs frutíferas.
Certo dia, Rosa conhece um rapaz que, novamente, faz seu peito acelerar: sonhos cor-de-rosa passam a alimentar a sua retina. O moço, sério e prestativo, possuindo quase vinte anos a mais, se apresentara bem intencionado; nomeando-se qualificado e disposto a contrair família. Rosa não exitou! Com o consentimento familiar, foi-se com o distinto enamorado, levando consigo seus dois maiores tesouros.
Dias passam, Rosa acredita piamente na felicidade conjugal. Entretanto, passados cinco anos ou pouco mais, a moça começa a perceber pequenas alterações no temperamento do companheiro. Apesar de ele garantir-lhe que nada além do habitual lhe acometia, Rosa intuía que o marido deleitava prazeres mundanos... Pequenas mostras de traição confirmavam as suas suspeitas.
Pouco a pouco, Rosa foi vendo os sonhos cor-de-rosa se dissolverem em cinza aquarela. Porém, como detinha coração verdejante, reconhece que chegara a hora de virar mais uma página da sua história. Certa de sua escolha, reuni os filhos, colocando-os a par da situação. Como era de se esperar, os pequenos se puseram favoráveis à mãe, ofertando-lhe sincera afeição e solidariedade.
Quando a noite chega, Rosa foi-se ter com o marido. Ao declarar a sua decisão, o companheiro apresenta comportamento totalmente inesperado. Enfurecido, alega que Rosa deveria manter amante, mas que não deixaria o delito sem a devida punição. Batendo-lhe várias vezes a face, argumenta que se Rosa não lhe pertencesse, jamais seria de outro... e sucedia com os atos de violência mesmo sob os protestos dos filhos que, em vão, espancavam a porta do quarto na tentativa de acudir a mãe.
Subitamente, gritos e gemidos cessam-se e o silêncio impera na casa. No alvorecer do dia, os meninos, estranhando a ausência da mãe, pedem auxílio à vizinhança. Um senhor bastante chegado à família, prontifica-se à tarefa de verificar o casal. Ao invadir o quarto, se depara com a frieza do cenário: Rosa, inteiramente vestida de vermelho, descansava sob os braços do marido que, dormindo, guardava, em uma das mãos, punhal dourado.
Rosa vinha de bom relacionamento... descansa, hoje, no Jardim Esperança.
Nota: Personagem feminina inspirada na canção Linda Rosa, interpretada pela cantora Maria Gadú. Texto baseado, lamentavelmente, em crime ocorrido durante esta semana na cidade de Caicó-RN. As características psicológicas das personagens e situações narradas envolvendo o crime, entretanto, são ficcionais. O crime deixou-me emocionalmente chocada e abalada. Não podemos admitir barbárie, atitudes reacionárias que rebaixem ou silenciem as mulheres, mesmo que "disfarçadas" sob os signos "honra" ou "amor"...