10/04/2007

Mar vagabundo


Há um mar em mim.

Um mar de águas revoltas.

Nuvens pesadas circulam passageiras

Areias, em fileiras, atiram-me ao fundo

quase sempre certeiras.


Há um mar em mim

E eu tantas vezes nada entendi:

Da cor que me veste olhos d'agua

E do vento que me sopra à maré baixa.


Pois há um mar em mim

E eu não tive sequer escolhas

Não pude dizer (ao mar)

que parasse com esses cantos sombrios

Nem que me deixasse a não-mercê de tais desafios.


Por que esse mar é fora da lei

Não sabe o que é sorte, nem teme solidez

Tudo sente, nada sofre e me move à embriaguês.


Por que esse mar é poço sem fundo

Quanto mais arrasta, mais revira tão doce mundo

Secando-me as águas claras em tons cinza profundos.


Isso tudo porque esse mar é vagabundo...



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)