Há um mar em mim.
Um mar de águas revoltas.
Nuvens pesadas circulam passageiras
Areias, em fileiras, atiram-me ao fundo
quase sempre certeiras.
Há um mar em mim
E eu tantas vezes nada entendi:
Da cor que me veste olhos d'agua
E do vento que me sopra à maré baixa.
Pois há um mar em mim
E eu não tive sequer escolhas
Não pude dizer (ao mar)
que parasse com esses cantos sombrios
Nem que me deixasse a não-mercê de tais desafios.
Por que esse mar é fora da lei
Não sabe o que é sorte, nem teme solidez
Tudo sente, nada sofre e me move à embriaguês.
Por que esse mar é poço sem fundo
Quanto mais arrasta, mais revira tão doce mundo
Secando-me as águas claras em tons cinza profundos.
Isso tudo porque esse mar é vagabundo...