29/10/2012

cerrado & sertania




Havia tanto o que dizer, esclarecer... mas a vida parecia-lhe uma imensa, impreenchível lacuna. Os sentimentos eram intensos, afeitos, cristalinos... como abrir-lhe, então, o peito, colocar-lhe a par de encargos, interditos e anseios sem render-se ao cruel realismo ou ao exacerbado subjetivismo?... como ferir o sonho, a selvageria do voo, quando o seu desejo é achar-se perdida no horizonte longínquo e vago das horas fartas de impressões? Se tudo o que eu almejo é lançar-me, ‘sem telha’, ao seu encontro, reconhecer-me na superfície febril dos atos e feições que fazem, do poema, cerrado & sertania? Indagava-se. Não, ela não possuía qualquer direito... nem expressão, nem liberdade, nem jeito. Sentia. Tenho pressa porque o sentimento alarga-me na fonte. Abre-me o amor entrefrestas e eu já não sei o que fazer para contê-lo, escondê-lo nas especiarias dos montes. Urgência é a posse, consentida, da sua geografia.






"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)