08/03/2012

das delícias

não desacredito no amor...

no alvor dos laços
nas ânsias que levam
homens/mulheres às delícias
do claustro
- alegrias e elevações da maternidade

mas penso haver felicidade
sem que se precise morrer.



Hercília Fernandes,
In Maria Clara: uniVersos femininos
(LivroPronto: 2010).

 

"Para Beauvoir, Sartre foi o companheiro que não exigiu que ela renunciasse a si mesma. Para ele, Castor [assim Sartre chamava Simone]  foi a cúmplice em um projeto que raras mulheres de sua geração aceitariam: uma parceria amorosa radicalmente antiburguesa, que excluía casamento, filhos, formação de patrimônio.

Uma união em que o pensamento e a escrita sempre estiveram em primeiro lugar, seguidos do companheirismo, do prazer da conversa, da paixão pela política. 'Bruscamente, não me achava mais só', escreveu Simone, surpresa por ter encontrado um homem que a dominava intelectualmente, mas que a estimulava para que se tornasse sua igual. 'Com ele, poderia sempre tudo partilhar'.

Não foi um arroubo de juventude. Sartre e Simone bancaram, durante 51 anos, a ousada proposta do que Benjamin Péret chamou de 'amor sublime', entre homem e mulher capazes de fazer, do encontro amoroso, condição de sublimação. Sartre não tinha interesse em dominar Simone. Sua liberdade o interessava, assim como seu talento e sua produção escrita. Foram sempre os primeiros leitores dos livros que um e outro escreviam.

Nunca moraram na mesma casa. Mesmo durante a doença de Sartre, os hábitos do agradável cotidiano compartilhado respeitavam os limites da autonomia de cada um. Passavam, juntos, uma parte das férias; depois, cada um viajava para o seu lado. 'Mas a separação de Sartre sempre era um pequeno choque para mim', escreveu Beauvoir".


Maria Rita Kehl


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"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)