não desacredito no amor...
no alvor dos laços
nas ânsias que levam
homens/mulheres às delícias
do claustro
- alegrias e elevações da maternidade
mas penso haver felicidade
sem que se precise morrer.
Hercília Fernandes,
In Maria Clara: uniVersos femininos
(LivroPronto: 2010).
"Para Beauvoir,
Sartre foi o companheiro que não exigiu que ela renunciasse a si mesma. Para
ele, Castor [assim Sartre chamava Simone] foi a cúmplice em um projeto que raras mulheres de sua geração
aceitariam: uma parceria amorosa radicalmente antiburguesa, que excluía
casamento, filhos, formação de patrimônio.
Uma união em
que o pensamento e a escrita sempre estiveram em primeiro lugar, seguidos do
companheirismo, do prazer da conversa, da paixão pela política. 'Bruscamente, não me achava mais só', escreveu Simone, surpresa por
ter encontrado um homem que a dominava intelectualmente, mas que a estimulava
para que se tornasse sua igual. 'Com ele, poderia sempre tudo
partilhar'.
Não foi um
arroubo de juventude. Sartre e Simone bancaram, durante 51 anos, a ousada
proposta do que Benjamin Péret chamou de 'amor sublime', entre homem
e mulher capazes de fazer, do encontro amoroso, condição de sublimação. Sartre
não tinha interesse em dominar Simone. Sua liberdade o interessava, assim como seu
talento e sua produção escrita. Foram sempre os primeiros leitores dos livros
que um e outro escreviam.
Nunca moraram
na mesma casa. Mesmo durante a doença de Sartre, os hábitos do agradável
cotidiano compartilhado respeitavam os limites da autonomia de cada um.
Passavam, juntos, uma parte das férias; depois, cada um viajava para o seu
lado. 'Mas a separação de Sartre sempre era um pequeno choque para
mim', escreveu Beauvoir".
Maria Rita Kehl
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