24/07/2008

Ócio indigesto

Dedico esses versos aos amigos da Blogosfera: Bina Goldrajch, Marcelo Novaes, Taninha Nascimento, Wellington Guimarães, Mirze Souza e Rô Daros.


Às vezes posso ser cruel
porque plana, ama, visceral.

Às vezes sou uma boa menina...
À bandeja da fera, servil, colossal.

E posso estar numa breve fadiga:
nuvem, volátil, atemporal.

Assim segue a ciranda e sigo a sina
porque seda, sombrio, no azul do firmamento.

(Mas, quem disse que seria festa, espaçamento?)

A não-identidade é um ócio permeável.
Todo meu ser se condensa na máxima desdobrável:

“Viver não é bom apetite
nem anorexia”...

Irei esvanecer por indigestão!...



Arte de Luís Ralha. Disponível em: http://cuidadinho.blogspot.com/


16/07/2008

Ave de rapina



Catarina e Ana Amélia, duas vidas distintas.
Um silêncio comum: Túlio!
E a sua ave de rapina...

Enquanto Catarina sorria
Ana Amélia se entristecia
(E o Túlio?... a todas comprazia)


Enquanto Ana Amélia cozia o almoço
Catarina se entretia no cordão
(E o Túlio?... fazia bolhas com sabão)


Enquanto a Catarina saía da fadiga
Ana Amélia reacendia o fogo
(E o Túlio?... se mostrava atencioso)


Enquanto Ana Amélia serena dormia
Catarina nos lençóis suplicava...
(E o Túlio?... cansado se glorificava)


Catarina e Ana Amélia, vidas distintas,
almas atadas
à calada ave de rapina!...


I



Essa dor...


não mais cretina
não mais ladina
caudalosa
rósea
cor
tina



II


Essa dor...


dilacera
alma
gentil
curva-línea


lápide
álgida
escarlatina


intacta
crua
muda
mole

fina



III


Essa dor...


fere
desce
serpentina


chove
engole
rosne

finda!


"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)